Dia útil


Luiz Tatit / Zecarlos Ribeiro

Dia útil, muito trampo
Vai e vem e o tempo passa
Muito tempo!
Ele vivia entre quatro paredes
Trabalhando o tempo todo
E, pouco a pouco,
Foi se acostumando a ser assim
Uma vida sem sentido para alguns
Rica em detalhes para ele
Que sabia todos os desenhos do azulejo
Até as manchas do piso
Das toalhas e das mesas
Muito que ele via nos desenho
Era tudo que ele tinha de melhor
Os desejos
Tudo da cabeça tava lá
No azulejo, tava lá
Tudo projetado em seu lugar
E quando sentia
Um tédio mortal: aaaaah!
Dava um grito temperamental
Todos paravam, olhavam entre si
Mas que fazer? Ele era assim...

Mas o tempo foi passando
E o progresso foi chegando
E as reformas!
Ele foi informado que brevemente
Uma reforma alteraria todo o piso
Todo o piso, as mesas e os azulejos
Era muito para ele
Já não tinha o que perder
Foi ao chefe e revelou
Todo o seu vínculo e seus desejos
Com os desenhos do azulejo
E com as manchas do piso
Com as toalhas e com as mesas
Tudo bem! O chefe deu a entender
Que entendeu todo o problema
"Não se aflija!"
Mas ele sabia que era falso
Que era inútil
E no entanto preferiu acreditar
No dia seguinte
Chegando ao local: aaaaah!
Deu seu grito como um animal
Correu pro seu chefe
Pulou na garganta
E só largou na sala de um hospital