Semiótica à Luz de Guimarães Rosa Semiótica à Luz de Guimarães Rosa

Luiz Tatit. 2010. São Paulo, Ateliê Editorial, 188p.

Este livro identifica no gesto literário de João Guimarães Rosa uma investigação persistente das formas de construção do sentido. Tenta demonstrar que, por trás do contador de “estórias”, há um pensador que insiste em apreender o que foi sempre tomado como inapreensível: o universo afetivo do ser humano.

Diante da conhecida instabilidade desse campo de estudo, Guimarães Rosa adota estratégias oblíquas de conceituação que nem por isso deixam de atingir verdadeiros prodígios teóricos, passíveis de assimilação imediata por semioticistas, psicólogos e demais estudiosos que tradicionalmente desenvolvem métodos de pesquisa nessa área. Este trabalho pretende justamente sublinhar as conquistas conceituais do escritor mineiro e mostrar sua pertinência para a semiótica praticada nos dias atuais.

As análises aqui elaboradas de seis contos (“Nada e a Nossa Condição”, “As Margens da Alegria”, “Os Cimos”, “A Terceira Margem do Rio”, “Substância” e “Nenhum, Nenhuma”) do volume Primeiras Estórias constituem apenas amostras do que há de investigação sobre a natureza dos sentimentos humanos na obra rosiana, mas já são suficientes para desvendar os princípios “tensivos” – ou musicais – que regem de maneira geral a escrita do romancista. O mundo subjetivo de suas personagens vem sempre pautado por cifras de andamento (mais rápido, mais vagoroso), de acento (mais tônico, mais átono) e de domínio (mais amplo, mais restrito) que ajudam o leitor a compreender suas intenções e reações mesmo quando não se justificam do ponto de vista estritamente narrativo.

Um recado final pode ser depreendido da leitura destes capítulos: além dos aspectos literários, linguísticos e simbólicos, usualmente descritos pelos grandes intérpretes do escritor, há ainda um projeto de ciência que se camufla no tecido de suas histórias e que merece a atenção de outras áreas de pesquisa. Afinal, no palco de Guimarães Rosa, transitam forças e formas que se ajustam mutuamente toda vez que suas personagens entram em cena. Configuram-se então verdadeiros sistemas de criação do sentido.

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