Banzo


Luiz Tatit

E aí, Matilde? Como está?
Penso que já está habituada
Não sente mais minha falta?
Não sente?
Eu também não sinto nada
Estou te escrevendo apenas
Por acaso
Ia passando
Vi sua foto
Me deu banzo
Sabe, dessas crises
De saudade e nostalgia
Já não tinha isso
Há muitos dias
Escrever pra você
Foi uma prova
Você pensa que foi f cil
Foi fácil uma ova
Eu fiquei lá durante dias
Mergulhado num dilema
Escrevo, não escrevo
Escrevo, não escrevo
Escrevo!
Até que valeu
A carta ficou boa
Dá pra você ver
Que eu sou outra pessoa!
Também eu estava muito alucinado
Né, Matilde?
Eu via o seu vulto
Toda noite
Hoje quando vejo
Já nem ligo
Eu converso com seu vulto
Hoje somos bons amigos
Você não sabe
Eu estou mais calmo
E totalmente envolvido
Com o trabalho
Já tenho outra menina
Não é linda
Mas já dá pra quebrar o galho
Inda não temos problemas de casal
Tudo que eu faço
Ela ainda acha legal
É que no começo
É assim mesmo
Né, Matilde?
Só depois que vira
Um temporal
Enfim, Matilde
A minha transa é esta
Você acha que dá certo?
Ou você acha meio besta
Pode falar
Você só vai estar me ajudando
Eu nem estou muito empolgado
Aliás já é tempo
De você me contar tudo
Do seu lado
O que você faz
Na hora de dormir
Você pensa em alguém
Por exemplo, pensa em mim
Pode me dizer com sua franqueza
De costume
Não tenho mais
Nenhum ciúme
E se você já tem outro carinha
Quero que jogue no fogo
Essas mal traçadas linhas!