Relembrando Nazareth


Capiba / Luiz Tatit

Insuperável
Esse turuna vitorioso
Sem ser espalhafatoso
Diz na música o que quer
É arrojado
E todo cheio de capricho
Já falou até de bicho
De pingüim e jacaré
De beija-flor ele falou
De pirilampo já falou
E escorregando e respingando
Foi virando o que ele é
Desengonçado
Com suas notas inclinadas
Só diziam pro Ernesto
Pinta as hastes mais de pé

Digo de improviso
Que é melhor que paraíso
Quando sinto que harmonizo
Nazaré
Mas sei que é duvidoso
Perigoso e tenebroso
Quando escolho tantas notas
Que elas todas
Vão parar no rodapé
Então não caio noutra dessa
E quando vou escrever uma peça
Num compasso que eu não possa atravessar
Polca a polca vou cantando
Até tudo ajustar

É adorável
Que ele lá todo cutuba
E eu aqui todo capiba
Já podemos conversar
E que o brejeiro
De seu beijinho de moça
Vire um turbilhão de beijos
E desejos a saciar
E que mau-mau vire bom-bom
E que odiar vire odeon
E todo tango brasileiro
Tenha um pouco do fon-fon
E é uma delícia
Ver as hastes inclinadas
Todas desequilibradas
E ele nunca perde o tom

Até que enfim
Eu vivo bem com a dor secreta
Pois ouvi o sinal de alerta
Que sua doce elegia me deixou
Que não existe a dor errada
E a dor correta
A dor antiga do poeta
A dor moderna elegantíssima
Do ator
Que a dor é tudo
Que nos faz ficar em dia
Com a saudade e a alegria
Com a letra e a melodia das canções
É o labirinto onde o choro chora e ri
Ri e chora, chora tanto
Chora até poder sair


voz: Ná Ozzetti
voz e violão: Luiz Tatit
arranjo de violões: Jonas Tatit
bateria: Sérgio Reze